terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Fé e traço no celular

Por Wemerson Augusto em 26/2/2008

Depois de transmitir diálogos da literatura, das campanhas educativas, culturais, religiosas e protestos, os quadrinhos têm uma nova missão, a difusão de informações do novo testamento da bíblia sagrada em formato de mangá pelos celulares.

A experiência digitalizada a maneira japonesa de fazer histórias em quadrinhos vai ser apresentada inicialmente aos jovens da República das Filipinas. A iniciativa partiu da Conferência Episcopal das Filipinas que pretende usar frases breves e desenhos animados que é muito popular no país para atrair os jovens ao mundo da fé.

A escolha da mídia é uma forma de aproximar a juventude a cristo de uma maneira divertida. Provavelmente, este posicionamento da igreja é apenas o começo de uma nova fase, proporcionada pela massificação das informações.

Entendimentos e reflexões

Muitos estudos demonstram que jovens no mundo todo vêm trocando as religiões, entre outras questões, pelo entretenimento. Na tentativa de reverter este diagnóstico, distintas iniciativas tentam mesclar diversão e mensagem direcionada. Outro exemplo vem da Inglaterra, com o mangá impresso que ilustra a vida de Jesus Cristo.

Similar a bíblia digitalizada nas Filipinas, a publicação de Jesus Cristo quadrinizado no país inglês também tem a finalidade de estreitar o contato com os adolescentes.

Um dos aspectos interessantes destes dois experimentos, é o fato deles lançarem outros entendimentos e reflexões a respeito da história mundial. Por exemplo, no mangá de Cristo, o personagem é solitário, tem cabelos compridos e apresentasse em alguns quadros de modo sombrio e até assustador. Imagem e enredo bem diferente do retrato ilustrado nos milhares de quadros e estórias reiteradas cotidianamente neste planeta.

Este artigo foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Censura e pirataria na rede

(*) Wemerson Augusto

A mídia de entretenimento registrou nesta semana dois episódios graves, que talvez sejam recorrentes na atualidade. O primeiro é a disponibilização dos internautas na internet das histórias em quadrinhos das editoras Marvel e Dc Comics, muito antes do lançamento em banca. Fato que está gerando desentendimentos entre as empresas e sites especializados na arte.

A outra passagem é a censura ao fotolog – diário de fotos na web – do ilustrador baiano Túlio Carapiá. O desenhista da revista Front teve na última semana sua conta bloqueada. O profissional utilizava o site de hospedagem de imagens para mostrar um pouco do seu trabalho.

Segundo consta, o bloqueio ocorreu devido à representação de desenhos sensuais na página de Carapiá. Neste ato, os censores igualaram o artista brasileiro, a páginas e perfis fictícios com finalidades de ponte ao comércio sexual.

Perdeu com este comportamento do portal, a brasilidade, o traço brasileiro e o bom-senso. Espera-se que os analistas responsáveis por estes casos sejam mais maduros e profissionais. Não é possível permitir que mecanismos como os adotados enquadrem a arte como ato criminoso.

Controles e descontroles

Da mesma forma, acredita-se que os scans – documentos escaneados – dos quadrinhos das duas principais editoras do mundo são respostas aos altos valores cobrados. O procedimento adotado pelos fãs podem não ser os melhores, mas têm finalidade participativa e inclusiva.

Todo o material é disponibilizado na íntegra, com o devido crédito aos desenhistas, roteiristas e demais profissionais envolvidos na edição. Conforme a edição em banca. Detalhe: tudo gratuito.

Diante disso, guardadas as suas diferenças, os dois episódios redesenham os controles e descontroles do mundo virtual. Cabe aos leitores e internautas contribuir e zelar pelos conteúdos justos e comprometidos pela inclusão e participação de todos.

Este artigo foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Quadrinhos e identidade cultural

* Por Wemerson Augusto em 12/2/2008
Enquanto os estudantes brasileiros aguardam a chegada dos quadrinhos incluídos na lista do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), novos enredos e interesses sacodem o mundo da manifestação artística. Na Alemanha, uma idéia semelhante à implantada pelo programa brasileiro – criado em 1997, que incentiva a leitura e o acesso à cultura por meio da aquisição de obras – buscará lançar novas interpretações quadrinizadas sobre o holocausto.

A experiência será testada inicialmente em 15 escolas de ensino médio da cidade de Berlim e do estado da Renânia do Norte. De acordo com o Centro Anne Frank, responsável pela ação, a idéia também poderá ser migrada para dois outros países, Polônia e Hungria.

Na Alemanha ainda não há uma precisão do investimento com o desenvolvimento dessa ação cultural. No Brasil, o custo do projeto que abrange 127,5 mil escolas é de aproximadamente em 26 milhões de reais. Ao todo são 16 milhões de estudantes com idade de 6 a 14 anos contemplados com acesso a oito obras em quadrinhos neste ano.

Equivalente a intenção a alemã foram às escolhas das histórias em quadrinhos aos jovens leitores brasileiros. No geral, as narrativas valorizam a história ou possibilitam interpretações do contexto sociocultural brasileiro.

Mensagens e influências

As histórias selecionadas são Turma do Xaxado (volume 2), Os Lusíadas em Quadrinhos, 25 Anos do Menino Maluquinho, Pequeno Vampiro vai à Escola, Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, Mitos Gregos: o vôo de Ícaro e outras lendas, Hans Staden – Um Aventureiro no Novo Mundo e Courtney Crumrin & As Criaturas da Noite.

Esta maneira não-convencional e desburocratizada de ver o mundo aos poucos está marcando pontos e conquistando espaço nos mais distintos setores da sociedade. No entanto, às vezes a burocracia e o conservadorismo educacional e cultural impedem a formação de novos leitores e cidadãos críticos.

Numa época em que é quase impossível desvincular imagem e texto, alguns didáticos ainda acreditam que saudoso quadro negro e as aulas da cadernetinha – atividades prontas de anos anteriores – vão prender ou motivar a atenção desta nova geração, exposta a milhares de mensagens e influências instantaneamente.

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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Fanzineiros, três porquinhos e suas casinhas.

Como já disse na minha primeira contribuição a este blog, pretendo discutir os problemas dos fanzineiros do nosso Brasil. Primeiro falei sobre criatividade e mercado. Agora vem mais um "tapa na oreia", como se diz na gíria. Pode ser que eu esteja errado, mas alguém já percebeu que existem três tipos básicos de fanzineiros? Da mesma forma que os três porquinhos. Sim, e para fins de praticidade, vou nomeá-los de "Fodão, Humildão e Eficaz".

O Primeiro e mais comum é "O Fodão" independente de ser bom ou péssimo, sempre acredita que está tudo perfeito, e que em menos de um ano vai publicar mangá no Japão. Para ele seu traço é o máximo, só aceita elogios, e qualquer um que faça um comentário que não seja "oh! como você é fodão" é logo escomungado pelo infeliz, ou quando questionado, diz que seu trabalho é "arte conceitual underground". O "Fodão" tem amigos e parentes que o elogiaram a vida toda. Não importa pra ele se os elogios vieram de leigos, a mamãe disse que ele é bom, então isso não se discute. O "Fodão" acredita que sabe tudo e tem a resposta pra tudo,e não se contenta em elogiar seu trabalho, ele fez questão de falar mal dos colegas fanzineiros. Geralmente quebra a cara e desiste quando vê que não é tudo que pensa. Casinha de palha a desse porquinho.

O Segundo é o "Humildão", que independente da qualidade do seu trabalho, ele não vai pra frente. Porque simplesmente sua autocritica é tão exagerada, que tudo que ele começa, ele abandona, ou recomeça de novo, com o objetivo de fazer melhor. Elogio para ele é a "morte sangrenta", jamais o elogie, ele vai correndo na estante buscar um volume de Evangelion e esfregar na sua cara, dizendo que aquilo é desenhista de verdade. E nesse círculo vicioso, o "Humildão" sequer consegue ter o fanzine pronto, pois deprecia tudo que faz. Um dia ele acorda, rasga tudo que já fez, diz que não tem competência, fala que caiu na realidade e desaparece. Casinha de madeira velha a desse porquinho.

O Terceiro e mais raro é o "Eficaz", independente da qualidade do seu trabalho, ele produz, produz e como produz! Sabe dos seus defeitos, reconhece sua qualidades, mas entende que tem muito a aprender, evolui com o tempo e lê muitos mangás. Vive com sua pasta de desenhos embaixo do braço, pede dicas por fóruns, comunidades de orkut e volta e meia leva um desenho seu pra alguém reconhecido no mercado criticar. O 'Eficaz" sabe das dificuldades, já pastou e pasta ainda um bocado, mas normalmente consegue mais do que um punhado de elogios dos parentes e colegas de sala. O "Eficaz" consegue respeito e maturidade. Ainda que ele tenha que desistir por motivos de força maior; será lembrado, e é bem possível que inspire o surgimento de novos "Eficazes". Ou melhor ainda, com sua competência faça mais pessoas aceitarem e respeitarem os fanzines e seus criadores. Casa de tijolo forte a desse porquinho. Infelizmente a cada 15 fanzineiros, 8 são "fodões", 5 são "Humildões" e 2 são "Eficazes". Qual dos porquinhos você quer ser?

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Quadrinhos brasileiros na China

*Wemerson Augusto

Depois das incansáveis tentativas de ludibriar o público brasileiro de que o país foi descoberto pelos gentis portugueses, a educativa revista em quadrinhos da Turma da Mônica, parte para mais um mercado, o chinês.

De responsabilidade de Mauricio de Sousa, um dos quadrinistas mais importantes da atualidade, a publicação de quase 40 anos merece todo o apreço de educadores, professores, pais, estudantes e admiradores da literatura em quadrinho.

Nessa longa trajetória da publicação infantil, muitas questões complexas da sociedade, sobretudo culturais e sociais foram humoristicamente refletidas e discutidas. Na tentativa de manter em evidência os personagens inspirados inicialmente em crianças do bairro do Limoeiro – na cidade de São Paulo –, seus artistas cometem alguns deslizes quando invertem a história do Brasil.

Um dos equívocos cruciais da importantíssima Turma da Mônica são as repetições errôneas dos discursos de alguns livros didáticos. Nesta nova história confeccionada para ser vendida aos chineses, a velha lenda do descobrimento do Brasil foi contada para as crianças orientais.

Principal quadrinho do Brasil

Em um dos quadros da revista, os chineses dão de cara com Mônica, Cebolinha e Papa-Capim – personagem indígena. Todos aparecem em primeiro plano. Ao fundo da imagem são apresentadas as caravelas portuguesas atracando em terras tupiniquins.

A intenção da revista - que contou com a ajuda do Consulado Brasileiro em Xangai para efetivar este trabalho - é promover a cultura brasileira entre as crianças da China e fornecer informações sobre o Brasil ao público interessado.

No último mês completamos 139 anos dos nossos quadrinhos nacionais. Um presente interessante poderia ser ofertado pela revista da Turma da Mônica - a principal publicação de quadrinhos do país. Eis uma sugestão de presente. Que tal um enredo do descobrimento despido dos vícios históricos, com traço e argumento anteriores às verdades dos colonizadores?

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domingo, 3 de fevereiro de 2008

Criatividade, mercado. Bolos e tortas. Polêmica.

Olá, esta é a primeira vez que escrevo para o Fanzines na Rede, então resolvi abordar os temas básicos e que mais me preocupam no universo fanzineiro, ou melhor dizendo no mundinho fanzineiro. Uma questão que venho martelando em conversas com amigos e a certa ausência de criatividade no segmento e como isso enterra muitos talentos. Na minha fanzinoteca, encontro dezenas de histórias, mas somente umas cinco delas me chamam a atenção. Por que?
Boa parte dos fanzineiros tem um grande autor ou obra que admiram, e inconscientemente ou não tendem a criar suas histórias no mesmo estilo daquele autor. O que isso trás de bom?

Vejamos:
Vamos tomar o exemplo de Cavaleiros do Zodíaco, mas imaginamos então isso como uma receita. Masami Kurumada, o autor, leu muito sobre várias mitologias, grega, nórdica e até bretã, e depois pegou tudo aquilo e passou por uma espécie de peneira, ao que sobrou ele acrecentou os elementos básicos da história: personagens, vilões e mocinhos, trama e tudo mais. E criou um belo bolo, profissional.
Agora vamos ao fanzineiro 'Beltrano". Beltrano adora Cavaleiros do Zodíaco, então assiste todos os episódios, compra os mangás, lê tudo e então resolve fazer seu zine. Beltranho capta um monte de idéias, pega os temas previamente penerados pelo Masami Kurumada e faz seus personagens, trama e história. Pode até ficar parecido com o bolo do Kurumada, mas dificilmente será tão gostoso, e terá cara de torta, porque faltou fermento nisso daí.
Ora, seguir uma receita de sucesso nem sempre é o melhor. Porque eu haveria de me interessar em mais uma história com torneio de luta entre guerreiros apadrinhados por estrelas? E ainda por cima amadora? Ora, já existe uma obra fantástica chamada Cavaleiros do Zodíaco com esse tema. Uma coisa é você beber da mesma fonte que seu autor ou obra favorita, outra coisa é a fonte ser o ser autor e a obra. É prejuízo na certa. E um fanzineiro a menos no próximo evento.

Os fanzineiros tem de parar de achar que as pessoas devem comprar seus fanzines pra apoiar "mais um artista brasileiro" ou algo parecido. Uma a cada 200 pessoas tem essa consciência social de ajudar o fanzineiro. Quando alguém compra um fanzine, está adquirindo um produto. Para ela pouca diferença fará em comprar um fanzine ou um mangá. O que ela quer é uma boa história, divertida de se ler, de qualidade. Essa é a realidade, por isso o fanzine deve ser atrativo, e principalmente original.
O mangá lançado pelas editoras tem toda uma estrutura profissional por trás, anime na TV ou na internet pra baixar, e a certeza de que você verá o final da história. Nós fanzineiros não temos nada além de um deviantart e alguns amigos que admiram o nosso trabalho. Nisso o mangá já sai anos luz na frente.

Enquanto não perdermos essa síndrome de coitadinhos e começarmos a arregaçar as mangas, apoiarmos uns aos outros e melhorar nosso trabalho, começando pela pesquisa e a leitura da maior quantia de autores possível. O bolo vai virar torta.

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