terça-feira, 24 de junho de 2008

Vôo 1972: Porto Alegre - Curitiba

Estava eu num vôo entre Porto Alegre e Curitiba, quando um homem sentou do meu lado e quis falar algo. Entre a conversa veio a sábia pergunta entre viajantes: “faz o que da vida?”. Sou escritor. “Nossa eu nunca conversei com um escritor antes, que interessante (...)”. Disse que eu escrevia contos. Dei-lhe alguns de presente. Ele me confessou que sempre quis escrever, mas a família achava ruim. Acabou virando médico ginecologista, mas sempre teve certa frustração por isso. Fiquei em silêncio. Meu diabinho (que mora em meu ombro) sussurrou-me: “que coisa, hein rapaz? Volta para o seu laptop e sonha com o tal do estrogênio”. E eu, médico frustrado que sempre fui, voltei ao meu triste ofício: expor em palavras, toda a miséria que guardo em mim.

Luiz Henrique Dias da Silva é escritor, estudante de arquitetura e colocou neste mês de junho o seu primeiro Fanzine na rua: A Vida Gira, Poesia e Arquitetura. Foram 500 cópias distribuídas em Foz e Curitiba.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Alienista na cabeça de quadrinistas

Por Wemerson Augusto em 17/6/2008

A transposição de obras literárias para o cinema, bem como para as histórias em quadrinhos, não é algo tão novo. No meio cultural são comuns e crescentes essas trocas de estilos narrativos. O que nos chama a atenção é o que estas releituras podem oferecer de novo ao público.

A crítica de que tal obra quando virou filme ficou boa ou não é muito pertinente. O que falta talvez neste campo são reflexões que apontem por que determinada adaptação construiu roteiro diferente da proposta original. Qual o contexto desta nova leitura? Quais foram as influências?

Com base nessas respostas, o público poderá compreender melhor, as opções e imposições que surgem nos rumos da histórias, tanto de romances, como nas histórias em quadrinhos, desenhos e cinema.

No ano de 2007, os desenhistas Fábio Moon e Gabriel Bá, lançaram a grafhic novel – romance gráfico – baseada no romance O Alienista, de Machado de Assis, publicado pela primeira vez em 1881 no periódico A Estação.

Crônicas de Itaguaí

Este recorte é apenas uma sugestão para tentarmos compreender como o contexto é importante para interpretação, aceitação ou negação de uma manifestação artística, como defende Cândido (1985) – autor, público e obra como elementos inseparáveis.

Diante disso, para ler o romance O Alienista, tente visualizar um Machado de Assis que nasceu na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1839, e que, além do ofício de jornalista, dedicava-se à dramaturgia, poesia, novela, críticas e ensaios. Do mesmo modo, analisem o trabalho dos artistas Fábio Moon e Gabriel Bá, partindo do atual momento cultural. Não tente valorizar a obra quadrinística com outras linguagens e épocas.

Feitas estas ressalvas e observações, muitas idéias poderão ser clareadas a respeito das produções culturais e suas relações com a literatura, o romance gráfico e o cinema. E, por que não, da Vila Itaguaí, do dr. Simão Bacamarte e da leitura de Fábio Moon e Gabriel Bá.

Com a palavra, o escritor: "As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia" (ASSIS, 1994).

O artigo foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa

Referências bibliográficas

ASSIS, Machado de. O alienista. São Paulo: FTD, 1994. (Grandes leituras)
CÂNDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. 7ª ed. São Paulo: Nacional, 1985
MOON, Fábio; BÁ, Gabriel. O Alienista. Machado de Assis: adaptação. Rio de Janeiro: Agir, 2007

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terça-feira, 3 de junho de 2008

Xaxado e a crítica social

Wemerson Augusto em 3/6/2008

"Caro amigo Wemerson. Hoje completam-se 10 dias que saí do hospital e estou me recuperando bem. Ainda não deu para ir ao estúdio, mas esta semana, com fé em Deus, irei. Muito obrigado pelos votos de melhora e pela preocupação. Deus lhe pague. Cedraz".

Esta é a resposta de Antonio Luiz Ramos Cedraz – autor das histórias em quadrinhos da Turma do Xaxado, considerada pela crítica uma das principais publicações regionalistas do nordeste brasileiro – dada a este que vos escreve. A resposta de Cedraz aconteceu por meio de correio eletrônico, em 19/05, após sua saída do hospital.

A simplicidade e originalidade do autor em muito se assemelha aos seus personagens, entre eles Xaxado, Zé Pequeno, Marieta, Marinês, Artuzinho e Capiba. Seres que dão vida, humor e significado também à cultura baiana.

Produção educativa

Em tempos em que a crítica fica cada dia mais reservada às charges, cartuns e tiras, ler os quadrinhos da Turma do Xaxado pode ser uma fascinante experiência crítica. Diversas problemáticas são tratadas e repercutidas nos sonhos e ilusões dos jovens personagens.

A publicação consegue fazer uma sintonia ímpar do espírito brasileiro às incursões cangaceiras pelo país. O título da história é uma alusão, segundo Cedraz, à dança dos cangaceiros. E o jovem Xaxado, um dos protagonistas principais, é neto de um reconhecido cangaceiro que seguia o bando de Virgulino.

Contabilizadas, ao todo já são quase 3 mil tiras produzidas pela turma. Inicialmente, o jornal A Tarde (BA) foi o primeiro periódico a ceder espaço ao traço de Cedraz. Em seguida, surgiram trabalhos para ilustração de livros e produções educativas. Logo depois, o Diário do Nordeste (CE) e Jornal do Rio Grande do Sul (RS), se entusiasmaram pela arte do Xaxado.

Sonhos para comemoração

Hoje, são diversas publicações e sites que disponibilizam aos leitores algum tipo de material produzido pelo estúdio de Cedraz. Estão previstos ainda para este ano o lançamento de novos livros, teatro, desenho animado, roupagem nova no site e o licenciamento de produtos.

Estes são apenas alguns sonhos do baiano de Miguel Calmon para comemorar os 10 anos da Turma do Xaxado. Sedimentaram estes anseios as tramas de seus primeiros heróis: Tarzan, Super-Homem, Capitão Marvel e Fantasma.

Este artigo foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa

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