sexta-feira, 21 de março de 2008

O Signifado de Nossa Casa

Sou paranaense, antes de tudo. Nasci e moro em Foz do Iguaçu. Adotei Curitiba como minha segunda terra, pelos sinceros e únicos amigos e pela companheira essencial que me deu, pelos seus dias de chuva e frio, pelo meu amado time de futebol e por ser a capital do meu estado.
Ter uma terra é fundamental. Não sei quanto tempo eu seria capaz de ficar longe do Paraná. Não me imagino mais longe da minha gente, dos problemas que temos e das alegrias que juntos, eu e o povo deste certas vezes esquecido estado, podemos desfrutar.

Dia desses, na minha banca de livros, um senhor disse que nós (paranaenses) não temos identidade. Não temos tradição. Não temos ícones paranaenses globais e aceitos em todas as regiões. Não somos como os gaúchos com sua tradição ou como os baianos com suas belas manifestações populares. Discordo! Temos muito mais que uma dança, um prato típico ou uma cultura folclórica e alegórica. Somos nós, bichos desta terra por nascimento ou opção, difusores da cultura das boas vindas. Mas não uma hospitalidade comercial, para venda, para o turismo. Somos abertos a novos moradores por amor às pessoas. Temos as grandes colônias árabe, japonesa, ucraniana, polonesa, chinesa, enfim. Deixamos de lado o bairrismo exacerbado e fizemos de nossa identidade cultural a variedade étnica, gastronômica e cultural. Somos um povo que, apesar de pouco folclóricos, ama sua terra sem demagogia. Fazemos nosso estado crescer e ser referência política, arquitetônica, urbanística, educacional e tecnológica, com respeito ao próximo e com visão de desenvolvimento. Abrimos mão de cultuar o passado em troca do futuro. Substituímos nossos costumes para aprender com outras gentes e darmos a elas liberdade em nossa terra, para que se sintam em casa e façam deste lugar o seu lugar. Somos assim: paranaenses. Povo do estado mais livre e própero do sul (e porquê não do Brasil?), que aprendeu a respeitar o ser humano acima de tudo.

Um bom final de semana à todos!

terça-feira, 18 de março de 2008

Quadrinhos, discurso e fé

Por Wemerson Augusto em 18/3/2008

Publicações quadrinizadas e digitalizadas buscam a todo custo fisgar e atrair jovens para o mundo da fé. Circulam na internet e mídias especializadas dois novos experimentos que têm a missão de levar ao público o discurso religioso sob duas diferentes linguagens. Um é a linguagem digitalizada da Bíblia sagrada para ser lida e ouvida através dos celulares. A outra opção são textos bíblicos em formato de mangás – quadrinhos japoneses.

Compreender como estas configurações de múltiplas linguagens estabelecem a relação de mercadoria e "negócio competitivo de recrutar leitores, telespectadores e ouvintes em um contexto de mercado" (Fairclough, 2001, p.143) é uma das tarefas do estudo da linguagem e seus fenômenos sociais.

A Igreja Católica no Brasil, representada pela Arquidiocese de São Paulo, por meio do padre Juarez Pedro de Castro, em recente entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, alegou que a arte é "uma maneira criativa de apresentar a palavra de Deus, principalmente quando o meio usado é bem-aceito entre os jovens".

Sentidos e identidades

Na mesma reportagem, outro sacerdote, este inglês, ressalta que a obra "vai transmitir a emoção da Bíblia de maneira única". Certamente a visão religiosa pelos dois religiosos está de certa forma pautada, em "uma tendência mais ampla para os produtores comercializarem suas mercadorias em formas que maximizem sua adaptação aos estilos de vida e as aspirações de estilos de vida dos consumidores (embora eu acrescente que eles estão buscando construir as pessoas como consumidores e os estilos de vida a que elas aspiram) [Fairclough, 2001, p.143].

Conforme o autor, (2001) "é muito apropriado estender a noção de discurso a outras formas simbólicas, tais como imagens visuais e textos que são combinações de palavras e imagens". Diante disso, o discurso religioso pode refletir e representar a entidade, bem como as relações sociais da instituição com a sociedade.

O comportamento da entidade perante o procedimento apresentado pode revelar suas concepções e posicionamentos com os jovens. Entre as possibilidades que saltam aos olhos são construções de sentidos e identidades que estão interligadas "produção, a reprodução ou a transformação das relações de dominação" (Fairclough, 2001, p.117).

Referências bibliográficas

FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: UnB, 20010

Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa

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segunda-feira, 17 de março de 2008

Impressões Urbanas

Olá "fanzineiros" de plantão!

Meu nome é Luiz Henrique e estou entrando agora neste grande (e promissor) movimento que é a publicação em formato Fanzine. Enquanto elaboro o meu primeiro material impresso, vou trazendo um pouco de poesia, dramaturgia, literatura e urbanismo humano para dentro deste espaço interativo e pretendo contribuir para aumentar o círculo de produção e, principalmente, de público leitor de Fanzines.
A partir de hoje publico minhas impressões urbanas e espero (ô se espero!) que gostem!

Luiz.

A Vida Passa

Olá pessoas, estou aqui novamente. Vim falar de uma impressão que tive dia desses.Há dias eu não escrevia nada. Nem contos. Nem nada. Estava sem idéias. Sem sonhos bons para contar para vocês, caros leitores. Não sei. Até que na última segunda feira, aconteceu algo que me fez pensar na rotação terrestre.

Era quase uma hora da manhã. Eu tinha chegado em casa há pouco menos de uma hora, depois de um dia corrido de trabalho. Sabem aqueles dias em que você não agüenta ouvir falar em chefe, trabalho, contas, problemas e fofocas? Então. Eu só queria dormir e esquecer todos os problemas. Até que bateram na porta do meu quarto. Uma hora da madrugada! Era minha irmã (onze anos e um coração adorável): “o meu gato sumiu...”. Por um instante me deu raiva. “Esquece o gato e vai dormir!” É uma gatinha vira-lata (se bem que não há diferença, mas nós humanos gostamos de classificar as coisas...), de aproximadamente quatro meses de idade. Mas a menina não iria dormir (eu sabia disso) sem o bicho. Levantei (de pijama) e fui procurar a gata. Não demorei para achar. Ela havia subido em uma árvore e, por meio desta, no telhado da casa. Estava miando um bocado e, desesperada, a ponto de pular de uma altura que, mesmo sabendo que era um gato, me causava espanto pela delicadeza da pequena gata Serafina (o nome dela). Iniciamos uma operação de resgate. Tive que queimar uns neurônios para salvar aquela gata. Coloquei um banco sobre uma mesa e fiz uma elevação de uns dois metros, para que eu pudesse me aproximar da Serafina. Busquei uma almofada e a ergui meus braços, para que a gata pudesse se apoiar. Enquanto isso, minha irmã falava “(...) pode vir Serafina, não tenha medo”. E eu, cansado trabalhador cheio de afazeres, tive que ficar alguns minutos com aquela almofada elevada, esperando que a gata ganhasse confiança até que ela subiu no apoio que eu criei e pude, finalmente, traze-la para o chão. Aquela gata que, no meu julgamento humano mesquinho, era um bicho sem amor e interesseiro, ao se ver apoiada em meu colo me deu uma pequena lambida no rosto e, já no chão, caminhou em direção ao quarto para dormir com minha irmã. Fiquei ali um minuto, pensando na vida, pensando no mundo. Quando voltei para meu quarto o fantasma do meu chefe veio falar de trabalho, de problemas e de metas, abri a porta e coloquei ele pra fora. Dormi em paz, abracei meu amor e acordei sorrindo.

Luiz Henrique Dias da Silva é escritor e, nas horas vagas, feirante e salva-vidas de gatos. Ele acredita que o grande problema do mundo não está nos humanos, está no planeta, que aceitou estes gafanhotos pra viverem nele. O Luiz é um transtornado...

terça-feira, 4 de março de 2008

Ideologia e dominação nas tirinhas

Por Wemerson Augusto em 4/3/2008

As famosas tirinhas de quadrinhos nas paginas de jornais e revistas impressas podem ser consideradas pelo grande público como algo cômico, despreocupado ou simplesmente direcionadas a diversão do público jovem.

Ao contrário deste pensamento foram as respostas de quase 50 profissionais da área de comunicação submetidos a um questionário de pesquisa que tinha a preocupação de questionar os valores prescritos nas tiras de quadrinhos dos meios de comunicação impressos.

A pesquisa foi realizada no município de Foz do Iguaçu (PR) durante o período de agosto de 2006 a fevereiro de 2008. O estudo, intitulado "Quadrinhos e sociedade: uma leitura crítica e reflexiva do contexto sociocultural no ambiente escolar", foi divido em três braços.

Num primeiro momento buscou-se apresentar duas significativas produções ideológicas da linguagem – Walt Disney e Mafalda. A análise das duas publicações revelou a variedade ideológica prescrita na linguagem aparentemente descuidada. O segundo e terceiro capítulo foram centralizados na questão sociocultural no ambiente escolar.

Manutenção do status quo

As constatações do estudo deram conta de que a linguagem das tiras, charges e quadrinhos podem transmitir um leque variado de discursos aos leitores. Mensagens estas que são disponibilizadas com facilidade e em grande quantidade nos meios impressos – e cada dia é mais comum a presença deste tipo de comunicação nos meios eletrônicos.

Entre as tirinhas mais mencionadas pelos entrevistados estão as dos jornais Folha de S.Paulo e Zero Hora. As respostas em sua maioria chamaram atenção para a visão ideológica das tiras, que geralmente estão afinadas com o discurso do meio de comunicação.

Nesta linguagem, similar a expressão nos meios audiovisuais, três aspectos estão enraizados como forma de manter o status quo da ideologia burguesa, conforme um número significativo de entrevistados. São eles a "liberdade, a igualdade e a naturalidade das relações sociais". (Fiorin, 2003, p. 59).

Para o autor, sem pretender que o discurso possa transformar o mundo, pode-se dizer a linguagem é instrumento de libertação ou opressão, de mudanças ou de conservação. Por isso, vale a pena pensar e refletir antes de julgar algo descompromissado ou banal. Talvez os mecanismos de entretenimento sejam as principais escoras de manutenção e sustentação do capitalismo.

Esta estrutura simbólica prescrita na linguagem possibilita a cristalização de alguns valores ideológicos. "A consciência adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais" (Bakhtin, 2002, p. 35).

Entre os exemplos de formação de consciência tem-se a fala de um dos entrevistado na pesquisa, que apontou para o conservadorismo do jornal Zero Hora. Segundo ele, o jornal nunca publicaria as tiras que a Folha de S.Paulo publica. O desenhista acredita que o jornal Zero Hora tem o cuidado com a formalidade e com a moral social. Já o jornal paulista "provoca e deixa a coisa degringolar no que diz respeito à sexualidade".

A naturalidade desses temas, entre outros discursos voltados à "liberdade, a igualdade e a naturalidade das relações sociais" (Fiorin) são os principais mecanismos de sustentação e dominação dos indivíduos na sociedade capitalista.

Este artigo foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa

Referências BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 9º Ed. São Paulo: Hucitec-Annablume, 2002

FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 2003

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