quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Espírito transformador e às vezes sobrenatural

* Wemerson Augusto

As histórias em quadrinhos (HQ), com suas diferentes formas e técnicas de expressão, atraem há tempos diferentes gerações e mídias. Nestes quase 130 anos de existência nos meios de comunicação de massa, as manifestações quadrinísticas sobreviveram à decolagem de muitas outras mídias e julgamentos atrapalhados.

No Brasil, a estréia da 9ª arte acontece em 1869, com o traço do italiano, naturalizado brasileiro, Angelo Agostini. No desenho desse artista, nascem As Aventuras de Nhô Quim. As narrativas visuais são com personagens permanentes e questionadores dos valores da monarquia da época. A arte, que é muito diferente da qual o público conhece hoje, foi publicada originalmente na revista Vida Fluminense.

Experimento semelhante, com algumas diferenças ideológicas, foi lançado nos Estados Unidos em 1895. Conhecido no Brasil como Menino Amarelo – Yellow Kid – estampava dezenas de mensagens em sua roupa, com histórias incompletas e sensacionalistas.

De lá para cá, muitas mudanças ocorreram no universo da linguagem quadrinhográfica. Algumas adaptações foram motivadas pelos avanços tecnológicos, outras por influências literárias. Acomodações que continuam construindo as HQ e fazem delas algo ímpar e às vezes sobrenatural.

As brigas comerciais dos jornais New York World e New York Journal pelo uso da imagem do menino amarelado não existem mais. Agora, a briga entre os meios de entretenimento é pelo público leitor. O Nhô Quim também não se aventura mais. A monarquia, felizmente ou infelizmente, acabou. Enfim, os tempos e os interesses são outros.

Aulas com quadrinhos

Seres quadrinizados migram para as telas de cinemas, literatura, jogos eletrônicos, propaganda, exposições, festivais e shoppings. Baseados em pesquisa de empatia, personagens típicos dos quadrinhos ganham o mundo da ficção e principalmente de jovens e adultos apaixonados pela arte. Além de prestarem serviços instrutivos em manuais técnicos e livros, através das story-board e simulações de diversos contextos em jornais.

Mesmo com tantas utilidades, uma das maiores instituições de transformação da sociedade, a escola, finge acreditar neste potencial cultural dos quadrinhos. De forma superficial, muitos colégios aplicam exercícios com auxílio de revistas em quadrinhos das principais editoras nacionais e internacionais.

No país são raros os experimentos verdadeiramente comprometidos para o crescimento crítico do aluno, por meio da linguagem que o mundo vê, e a escola faz de conta que enxerga. São muitos os educadores e ativistas culturais que trilham este caminho e são arduamente interrogados com a seguinte questão: "Assim, eles vão querer ficar só lendo quadrinhos."

Então, não seria a hora de elaborar, entre muitas outras atividades, aulas com personagens dos quadrinhos? Por que a imprensa, a indústria cinematográfica e os meios de entretenimento servem-se com tanta freqüência desta literatura?

Este artigo foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa

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